28.7.08

Tenho andado


Angel of Mine

Child of my heart


Tenho andado fugida
Tenho andado sem tempo livre
Tenho andado sem cabeça

Quase dois meses se passaram e a vontade de vir aqui descrever muitos momentos, vitórias e angústias tem sido muita, mas vamos passando pelo tempo e ele não espera, como um combóio que apita e segue para a paragem seguinte, a fazer "pouca-terra, pouca-terra!".

Durante estas semanas tenho vivido muitas das maiores alegrias da minha vida, assombradas por algumas angústias e sofrimento. Hoje? Sinto-me muito melhor, mais capaz e menos assustada, mais mentalizada com algumas situações, o que me ajuda a viver mais em pleno o novo amor da minha vida, a minha nova família, a minha nova condição de Mãe.

A E. nasceu lindamente dia 6 de Junho, pelas 11:49. Media 48 cm e pesava 3,160Kg.

Cheguei à Maternidade com 8 cm de dilatação (Ganda maluca! Ou corajosa?), pois não queria passar por todos os protocolos hospitalares, como ficar deitada, acelerarem o parto, ter 30 mãos a avaliar a dilatação, epidural e afins.
Como sabia que a E. estava bem posicionada, na véspera segui para Coimbra e ficámos em casa de uma Amiga. Já ía em trabalho de parto, sabia-o, mas não sabia em que fase. Durante toda a noite o meu companheiro de viagem dormiu, acordando de vez em quando para dizer "Se precisares eu estou aqui!". Eu acenava que não, pois sabia que a sua ajuda era levar-me de imediato para a Daniel de Matos, por isso... em silêncio e nas posições mais estapafúrdias fui avançando no trabalho de parto. As contrações tornavam-se mais claras e mais fortes, o rolhão (parecia-me e depois confirmei) saía aos poucos e tive necessidade de alguém que me compreendesse e ajudasse.
Liguei a uma Amiga e com ela fui comunicando, via telemóvel, noite fora. Foi a minha companheira, a minha força, o incentivo de que precisava e o dia foi clareando.
Contactei outra Amiga e outra luz se acendeu no meu esforço, outra força se juntou a mim e à minha filha. Éramos três a ajudá-la a preparar-se para nascer!
A voz, as palavras, as mensagens, a partilha de uma contração via telemóvel foram o que precisávamos e que nunca poderei agradecer devidamente, tal o carinho e gratidão num momento tão-tão especial!

Entretanto o cansaço começou a tomar alguma conta de mim e tentei ficar deitada. Pareceu que as contrações diminuiram de intensidade, mas eis que oiço um estoiro (literalmente) e me rebenta o saco. Colchão, tapetes, chão, corredores, casa-de-banho, toalhas, escadas, banco do carro, caminho até à maca das urgências, roupa nem falar! Impossível descrever, impossível prever tanto, mas tanto líquido.

Às 11h saio de casa da Amiga (com todos em estado de sítio) e em 15 minutos estamos na Maternidade. Da minha boca só saía: "Vai depressa, ...! Vai depressa!" e ele lá ía ao volante, com uma tranquilidade aparente, mas comigo a orientar o caminho.
Ao chegar às urgências ligo aos Pais:
- A Mãe?
- Não está. Foi... "
- Esquece, esquece. Vai nascer! É agora! É agora! É agora!"
Não sei quantas vezes disse isto, mas o meu Pai diz que foram muitas! Desliguei de rompante, entro nas urgências, sou observada e oiço um berro. "Esta tem de ficar, haja cama ou não. 8 cm!"

Vou para a sala de partos e entro em período expulsivo, que pareceu durar uma eternidade e eu não ser capaz, mas que resultou com a E. a nascer e eu a olhar o meu cara-metade e dizer: "Consegui!", "Conseguimos!!".
Esteve sempre ao meu lado, e das poucas vezes que tive para recuperar fôlego (foram poucas, diga-se), olhava para ele e perguntava, ofegante: "Estás bem? Estás bem?"

A minha obstetra apareceu na sala a meio desta fase e fez-me bem vê-la. Tinha muitas vozes de comando e não me conseguia concentrar. Gritei como uma verdadeira bezerra e dizia: "Não consigo! Não consigo!"

Um dizia "Puxe!", outro "Não grite!", outro "Como é que faz quando tem prisão de ventre?" (a este respondi: "Na vertical!!!"), outra "Tenha calma!", outra "Assim não vamos lá!", outro "Olhe que está a fazer sofrer o bebé. Controle-se!" e ainda outra vozinha "Se quer agarrar alguma coisa tem aí a mão do marido. Não me parta é a minha!".

No final apercebi-me que uma pessoa me deu os parabéns, depois outra, seguida de outra e mais outra e outra e outra... Tinha tido n estagiários a assistir e nem tinha dado conta que era tanta gente!

Enquanto me cosiam (sim, não me safei da episiotomia, que bem me fez sofrer dias a fio), a minha filha estava com o Pai e uma enfermeira numa salinha ao lado.
Por mais que perguntasse: "Já posso ficar com ela?", a resposta era sempre a mesma: "Tem de ficar aqui que está mais quentinho. É só mais um bocadinho!"... mas pareceu uma eternidade!!
O maridão ía e vinha: "Ela é parecida contigo!". Mandava um sms, tirava-lhe fotografias e voltava: "Tem as unhas tão grandes!" e eu a pensar: "Quero abraçá-la, acarinhá-la, beijá-la, vivê-la! O calor do meu corpo não é menor que o do raio daquela sala. Tragam-ma, bolas!". Mas aguardei, apesar de perguntar mais 30 vezes "Já posso?"

Finalmente veio para mim! Misto de sensações, peito de fora e eis que ela atraca de imediato! Nem tive tempo para pensar, pois quando dei conta estava a ser deliciosa e delicadamente "sugada". Uma das melhores sensações da minha vida!!!

E tudo estava bem connosco!!

Três dias depois faço a viagem de regresso a casa e começa o cansaço, a desorientação, o stress, a insegurança.

Sempre soube que um bebé não se limita a comer, dormir e fazer xixi/cocó, mas houve muita coisa nova demais para mim, a juntar às dores que insistiam em manter-se da episiotomia. Quando a E. adormecia eu "gania" com dores e fiquei bastante dependente do maridão e da minha Mãe nos primeiros dias.
Entretanto a odisseia dos mamilos a doerem, o não saber se havia de "ceder" aos pedidos constantes da E. para mamar, os telefonemas novamente às Amigas, o não ter ninguém na mesma cidade que falasse comigo cara-a-cara e me acalmasse (sem ser marido e Mãe).
Uns dias a minha Mãe ficou, outros senti-me mais forte e voltou para casa.

Entretanto passou-se um mês e tudo parecia começar "a rolar". Dar a mama já se fazia de "mama às costas", a E. começou a fazer noites de 3 a 6 horas, mas eu... não conseguia dormir!
Dia após dia sentia-me mais fraca, com náuseas, com uma ansiedade brutal a tomar conta de mim.
O maridão começou a trabalhar, eu a sair um pouco de carro com a E. (após a revisão pós-parto, onde ainda me tiraram 3 pontos. Eu bem que me queixava!), mas a insegurança e o medo de falhar a aumentarem e a tomarem conta de mim.

Dia 16 de Julho, à noitinha, chorei e solucei horas a fio agarrada ao maridão. Partilhei os meus medos sem vergonha, os meus pensamentos mais íntimos e tremi, com o coração acelerado e apertadíssimo. Dormi, exausta, 1 hora! Na manhã seguinte não tinha força para me levantar, desfazia-me em lágrimas e em medos.
Senti que perdi o controlo da situação e a exaustão tinha tomado conta de mim.
Tive medo de colapsar, de morrer, de não acompanhar a minha filha, de ser internada, de, de, de...

Nesse dia amamentei pela última vez!

Por indicação médica comecei a fazer um tratameto que me impedia de dar de mamar (que foi mais uma das minhas conquistas e tanto prazer e bem me fazia e à E.). Doeu (ainda dói!!), mas foi a única alternativa que se viu e, começo a acreditar, que tinha.
Entre a E. ter mama ou ter Mãe...

Durante o dia tirei todo o leite que pude e fui congelando. Parecia que anda acreditava que não ía passar ao leite de fórmula e dei de mamar mais duas vezes, até tomar a medicação.
Foi tão bom quanto doloroso: amo a minha filha, ultrapassei as fases chatas da amamentação (mamilos doridos, etc) e adorávamos as duas a hora da mama. O peso dela esteve sempre óptimo, o que era um orgulho para mim!

Nos primeiros biberons chorei, chorei muito! Até porque eu continuava a ter muito leite, estava mesmo ali à mão e eu não podia pôr a mama de fora e dar-lhe. Bombear para aliviar o peito passou a ser um suplício, pois o leite que saía era muito, mas era despejado no ralo da banca da cozinha.

Uma semana e pouco depois já lhe dou o biberon com um sorriso quase tão feliz como lhe dava de mamar e estou feliz por ela se ter adaptado ao leite de fórmula e os intestinos estarem a funcionar bem. Partilho a tarefa com o maridão (que faz as noites, para eu poder fazer o tratamento da insónia e tem sido um Paizão!) e a minha Mãe (que tem sido uma ajuda preciosa! Mãe a dobrar, mesmo!).

Muito mais há para escrever, mas faz-se tarde e tenho de dormir. A E. já dorme, depois de uma banhoca, leitinho, algumas cólicas e colinho. Teve direito a um passeio por sítios verdes, ao final da tarde, com os avós maternos e aqui a Mãe.

Como é que ela é? Sou suspeita, mas costumo dizer que "Para lá de saudável, tivémos a sorte de ser tão bonita!" E... cheira tão bem!! O meu último acto antes de me enfiar na cama: cheirá-la :O)

Até breve!