5.3.08

Frágil




Por vezes lembro-me deste meu cantinho e sinto falta de cá vir conversar com as palavras.
Por vezes sinto é vontade de usar esse tempo a saborear a vida e a barrigota, os amigos, as paisagens, o sol.
Por vezes evito encontrar-me aqui, como que ao espelho, e desabafar.

E assim passo pelos dias!

A consulta do dia 7 correu bem, apesar de eu ir um bocado mal-dispostita na viagem e o ânimo com o maridão não ser dos melhores...
Boa eco, boa consulta, requisição para análises e o achar-me "branquita". Não houve espírito para grandes voltas por Coimbra e o regresso a casa acabou por se dar mais cedo, pois a inspiração era mesmo muito pouca.

Dia 11 temos novamente consulta, mas pelo meio fomos 2 vezes às urgências, que aqui a minha pessoa entrou em stress e provavelmente somatizou para lá das dores que um estiramento dos ligamentos do útero provocou.

Já com uma nova faixa de gravidez a dar maior suporte à barrigota, eis que o incómodo se mantinha, a origem das dores não estava bem confirmada na cabeça e toca a visitar o hospital. Fui muito bem atendida, vi a minha pequenina com o pé encostado à testa (qual ginasta em treinos) e tive confirmação do diagnóstico (feito ao telefone pela médica). Saí de lá bem melhor e com receita de magnésio para ajudar a recuperar a parte muscular.

Nessa semana senti-me terrivelmente xôxa e ansiosa e mil e um pensamentos me povoavam a cabeça e atormentavam o coração.
Estava agitada, inconformada, com medo, angustiada.
A minha melhor amiga tinha sabido, às 9 semanas, que o seu bebé tinha deixado de crescer 3 semanas antes e teve de ser internada. Mexeu muito também comigo e, no dia em que a visitei, deparei-me com uma fulana que ía no 5º aborto provocado aos 5 meses. Haja sangue frio para não fugir dali a correr, pois os sentimentos ficaram em turbilhão dentro de mim e, ao ver o seu ar descontraído, são soube o que pensar ou sentir.
Durante mais de uma semana andei a digerir as duas situações, com revolta e pena dentro de mim, com muita tristeza e muita dor. Sou assim...
O marido separou completamente as águas e criticava o meu sofrimento, o que o aumentava.

Nesse sábado, dia 23, entro em parafuso (até porque tinha a cueca húmida e pensei logo no líquido amniótico) e regresso às urgências daqui: sou excessivamente mal atendida, um pouco magoada na observação e mal medicada. Confirmou-se não estar a perder líquido (alívio!!), mas vem a hipótese de uma infecção urinária e de uma infecção vaginal, mesmo não tendo sintomas de nada. "Como precaução, queridinha, cê vai tomá esse antibiótico e colocá esses óvulos." Pergunto mais do que uma vez porquê e só obtenho como resposta: "Cê tem di confiar, querida! Vamos lá sossegar essa mãe. Nada disso vai te fazer mau. Confia, querida." Informo que tive de tomar antibiótico há cerca de um mês e volto a insistir que não tenho sintomas de nada (conheço bem as infecções urinárias e não há cá comichões nem ardor na vagina). Insiste. Explica tudo o que fez à 1ª médica que me recebeu (não sabia ler a eco, não soube ouvir a bebé, fez perguntas e comentários do arco-da-velha. Uma vergonha!) e ao enfermeiro que sempre viram e acompanharam tudo. "As melhoras, queridinha!" e já estou cá fora para carimbar a receita. É a médica da minha amiga e confirmo uma negligência total!!
Só no domingo, é com telefonemas que consigo acalmar e sentir-me mais confiante: ao meu urologista (que confirma ter-me sido receitado antibiótico de uma forma gratuita por não ter sintomas e me elogia por evitar o antibiótico até fazer análise à urina, para lá de falar com esposa - ginecologista - que confere não ser indicado óvulos sem sintomas de infecção!), uma amiga que trabalha no laboratório de análises do hospital, uma amiga, a irmã, a Mãe.
É fim-de-semana e temos visitas. Apetece-me berrar, fugir, mas não convém e marido e visita insistem em passear, relaxar, visitar museus, almoçar fora.
Acredito que a intenção tenha sido boa, mas para quem tinha algumas dores a mexer-se e o coração amarfanhado, não era a solução. Precisava deitar cá para fora os meus medos, ser ouvida, chorar e confirmar se estava a fazer bem em não tocar na medicação que me tinha sido prescrita. Precisava do ombro do meu cara-metade, que insistia em não mo dar para eu "não alimentar as angústias".
A visita foi embora domingo, depois de uma conversa muito séria, em que "agradeci" a falta de apoio a quem veio para me visitar e à minha barriga. A quem expliquei que é mais fácil dizer que não se sabe o que fazer ou percebe do que fazer um esforço para. A quem não se atreveu (tal como o meu marido) a aproximar e enfrentar a fera magoada em que eu me tinha transformado e optou por dar alguns passeios comigo em casa.

Nessa 2ª feira o resultado da análise à urina confirmou não estar com nenhuma infecção e não precisar de antibiótico nem óvulos antifungicida. Senti-me aliviada e contente por ter sido cautelosa e muito orgulhosa (ao mesmo tempo que revoltada) por ter acabado por resolver tudo praticamente sozinha.

Com o marido a tentativa de conversa desaguou em desconversa e choro, muito choro da minha parte. Senti-me muito só! Senti-me incompreendida e críticas era o que menos necessitava, assim como a presão para "estar bem por causa da bebé". Não depende em exclusivo de mim, certo? No final, ouvir "Quem me dera ser eu a estar grávido!" Magoou fundo!
Mas a semana foi rolando, eu retomei o trabalho sem forçar e com muita necessidade de me distrair e assim aconteceu. Mais ocupada, menos espaço para angústias e frustrações!

Planeamos agora 3 dias fora, tendo em conta que o assoberbar de trabalho o impede de se ausentar mais tempo e para mais longe.

A vontade de distrair, passear e namorar não tem sido quase ouvida. O tempo livre tem sido ocupado a caminhar com colegas ou frente ao computador. Eu sinto que tenho ficado com "os restos", quando as companhias para as caminhadas não saiem ou a net funciona mal.

A preocupação em manter "a chama acesa" da amizade e o investimento têm sido grandes, mas uma vez mais (também na minha maior sensibilidade de grávida) o investimento no "a dois" tem sido esquecido ou não valorizado, se é que lembrado e canso-me de lembrar, de sugerir, de planear!

Como dizia uma amiga há pouco: "Podemos não ser o centro do mundo deles, mas faz-nos bem sentir que sim, principalmente quando se está grávida.". E é bem verdade!
Nunca me senti muito "a prioridade", mas agora sinto mais essa falta, tenho mais essa necessidade que é satisfeita muito menos vezes que o por mim desejado.
Ser prático e racional sempre foi a sua postura, mas eu sonhei e sonho (estúpida?!) com um pouco de romantismo, de "regar da plantinha", de... mimo, pois então!

Talvez esteja mesmo egocêntrica, talvez esteja centrada demais em mim. Será?!

Porque há, tantas vezes, uma maior verbalizar de emoções da parte de outros do que da dele? Porque só há dois dias (porque eu sugeri) sentiu a nossa filhota mexericar? Porquê a palavra "responsabilidade" é por ele tantas e tantas vezes proferida, mas sempre em relação ao trabalho? E ao lar? À família que construímos? Ao amor que eu sei existe em nós?
Porque investe tanto no que vê menos vezes, no que está mais longe e parece esquecer-se do que tem ao lado? Só dará valor à poça quando ela secar? Não quero esse dia!

Não escrevo em busca de palavras de consolo. Escrevo num acto de pura catárese, necessária à minha sanidade mental.
Escrevo com a consciência de poder exagerar e só estar a ver o lado que me magoa e me faz sofrer. Mas hoje não é do outro (que é grande!) que preciso falar.

Frágil! Por vezes, sinto-me frágil como uma papoila ao vento, mas em alguns desses dias faço-me de forte.

11 comentários:

Lília disse...

Um abraço muito apertado e que tudo corra bem.

Um grande beijo,
Lita

Micas disse...

AMiga,

Não sei o que te dizer...é normal que estejas mais frágil, mais sensível mas a teu lado tb deveria estar um ser humano mais atento e com capacidade de compreender as "hormonas" saltitantes que estão em ti!!!
Mas...os Homens têm várias maneiras de lidar com estes processos e não sabem muito bem o que fazer! Dá-lhe tempo e espaço mas muuuuuuuito diálogo, tenta entender o porquê das suas atitudes. E vais ver que resolvem esta pequena crise!

E nomes para a Princesa?? Já está decidido?

Muuitos beijinhos e cuida muito bem de ti, tá?
Inês

CARLUXA disse...

Amiga então que é isso? não estou a perceber...estás grávida e é nisso que tu tens que te concentrar e nas coisas maravilhosas que estás a viver.Vive o presente miga. E nada de pensar em disparates.
Força.
Beijocas

susy disse...

Olá amiga nem sei o que te diga, acho que ele te devia ouvir, acho que te devia dar um abraço que me parece que é do que precisas. Mas ainda bem que com vocês a duas está tudo bem e espero mais noticias vossas, se precisares de uma amiga estou à disposição :)

Beijos
Cláudia

Cláudia, Pimpo e Pimpa disse...

Olá!
Todos os dias, visito o teu blog na esperança de ter novidades. Ainda bem que regressaste.
Li-te e revi-me nalgumas situações que descreves (desculpa, estar a comparar-me já fui alertada que não devo fazê-lo mas só quero que percebas que muitos dos sentimentos que tens são vividos por outras pessoas também).
A gravidez, à partida devia de ser um estado de plena calma e devíamos de saber desfrutar dela, mas tu tens os sentimentos em turbilhão, o que na minha opinião é super normal, as hormonas andam aos saltos e devido às dificuldades que tens tido para conseguires engravidar.
Acho que devias vir desabafar no teu blog mais vezes, na minha opinião só o facto de escrevermos e alguém nos ler e dizer que percebe o que sentimos é meio caminho andado para nos sentirmos melhor.
O teu marido de certeza que só quer o vosso bem, e não deve saber como desfrutar com perfeição esse teu estado de beleza.
As mulheres grávidas têm muitas expectativas, sentem-se mais frágeis e tristes, em relação aos outros e esperam muito mais destes, e em especial do marido…
Tens de o incentivar a tentar perceber-te, de lhe explicar que sentes necessidade de mais apoio psicológico que sentes falta de mimos, que estás mais sensível a tudo.
Olha, eu sei que não nos conhecemos, mas tenho muito gosto em te “ouvir” caso queiras desabafar. Bjs muito grandes para ti e para a tua Princesa, Cláudia

vida disse...

é uma altura que realmente estamos mais sensiveis . . .
Espero que recuperes o animo !! um grande beijinho

Mary disse...

Oi querida, tenta mais diálogo com ele, tentem ser meigos um com o outro.
Os homens têm "panca" com os computadores, também lá tenho um em casa, por isso tem de haver cedências de ambas as partes.

São novas experiências que ambos estão a viver, cada um á sua maneira, da melhor maneira que podem e sabem.
Por isso, vão com calma, não estejas tão ansiosa, também não faz bem, a nenhum de vocês.
Gozem essa gravidez, aproveitem.

O dálogo é a chave de quase todos os problemas, com uns miminhos á mistura...

Beijocas
Isa

tixa disse...

Minha querida cada pessoa reage de maneira diferente à gravidez e às suas alterações, tenta concentrar-te só nas coisas boas, no amor e no novo ser que se está a desenvolver dentro de ti, e lembra-te as outras pessoas podem não entender o que sentes e a reacção não é por mal.
Um bj enorme e quero voltar a ver um sorriso sim?

Kitty disse...

Mesmo partilhar o teu "estado de graça" percebo o que descreves. Não pretendo deixar-te "palavras de consolo", prefiro antes consolar-me com elas.
É bom ler-te...
Beijinho

NaRiZiNHo disse...

Momemtnos desses são normais, por cá também se gasta disso.
sabes que não é fácil para eles, eles não sentem nada, é um sentimento de impotência muito grande. Tenta absorver todos os momentos que estás a viver da melhor maneira, não há momentos como estes que estamos a viver.
:-*

Aninhas disse...

Oh minha papoila linda... Calma, poças tanta coisa!!! Não admira que essa cabecinha ande a mil à hora. Realmente todos os cuidados são poucos!

Beijinho grande!