19.8.07

Escrava de mim mesma

Bem que eu ontem escrevi que não me apetecia voltar à realidade. E não. Está duro!
Fim-de-semana, época de férias, telefonam amigos de longa data que já não vemos desde o Natal.
A eles juntamos outros e... dou por mim rodeada de crianças, que é como quem diz, com duas crianças giraças de idades distintas a passar parte da tarde e das suas descobertas comigo, a abraçar-me, a chamar-me, a sorrirem-me. E as fotos de outra, com idade entre estes dois, espalhadas pela casa do outro amigo que visitamos. Não está: foi com a Mãe e a Avó para a praia, mas há "marcas" suas pelos compartimentos da casa por onde me desloco: as tais fotos, os jogos e o cantinho na cozinha que me fez ficar estarrecida e imóvel durante alguns longos e fortes segundos.
Uma mesa e uma cadeira pequenas, jogos, folhas, lápis de cor e outras ferramentas de diversão e criatividade. Tudo arrumadinho, que ele foi para a praia. Na parede os seus desenhos afixados, as suas pinturas.
Mil e um pensamentos povoam o meu cérebro e o coração fica apertadinho: será que algum dia vou ter o privilégio de ter um pilantrinha e lhe poder proporcionar um cantinho daqueles? Expôr, cheia de orgulho, os seus desenhos? Sentar-me a seu lado e brincar com ele/a?
Será que algum dia vou ter fotos suas para espalhar, com um sorriso nos lábios, pela casa?
Será que algum dia vamos poder ir à praia, brincar com as ondas e fazer túneis na areia?
Será que algum dia vou ter uma família com filhos?
No regresso a casa venho calada: dói-me falar porque só me apetece chorar.
Posso estar a ser melodramática, estou concerteza melancólica e sou, sem dúvida, uma romântica. Não estou a conseguir centrar-me no "bright side of life", mas é assim que me sinto e é para isso que criei este canto. Para chorar as lágrimas, transformadas em palavras, sem que ninguém me impeça ou recrimine.
Hoje sofro, como já ao acordar sofri ao recordar imagens e sensações de, num sonho, estar a dar de mamar. E que sensações (no meio da confusão que era o dito sonho)!!
Como pode o nosso inconsciente ser tão consciente? Como pode um sonho parecer tão real que até um mamilo dói?
Como dizia Binet "Há dentro de mim um senhor misterioso, que comanda escravos; vejo os escravos sair de casa e cumprir as ordens recebidas; mas o senhor não o vejo, nunca o vi, jamais o verei; ignoro o que ele é, o que ele quer, o que ele pensa; e todavia esse senhor sou eu." (1911)
Sinto-me escrava de mim mesma... e dos meus sonhos!

1 comentário:

Anónimo disse...

Um poema empático, com desejos de muita força, aquém e além da S. Plath:


Barren Woman
SYLVIA PLATH

Empty, I echo to the least footfall,
Museum without statues, grand with pillars, porticoes, rotundas.
In my courtyard a fountain leaps and sinks back into itself,
Nun-hearted and blind to the world. Marble lilies
Exhale their pallor like scent.

I imagine myself with a great public,
Mother of a white Nike and several bald-eyed Apollos.
Insread, the dead injure me attentions, and nothing can happen.
Blank-faced and mum as a nurse.