
Por vezes lembro-me deste meu cantinho e sinto falta de cá vir conversar com as palavras.
Por vezes sinto é vontade de usar esse tempo a saborear a vida e a barrigota, os amigos, as paisagens, o sol.
Por vezes evito encontrar-me aqui, como que ao espelho, e desabafar.
E assim passo pelos dias!
A consulta do dia 7 correu bem, apesar de eu ir um bocado mal-dispostita na viagem e o ânimo com o maridão não ser dos melhores...
Boa eco, boa consulta, requisição para análises e o achar-me "branquita". Não houve espírito para grandes voltas por Coimbra e o regresso a casa acabou por se dar mais cedo, pois a inspiração era mesmo muito pouca.
Dia 11 temos novamente consulta, mas pelo meio fomos 2 vezes às urgências, que aqui a minha pessoa entrou em stress e provavelmente somatizou para lá das dores que um estiramento dos ligamentos do útero provocou.
Já com uma nova faixa de gravidez a dar maior suporte à barrigota, eis que o incómodo se mantinha, a origem das dores não estava bem confirmada na cabeça e toca a visitar o hospital. Fui muito bem atendida, vi a minha pequenina com o pé encostado à testa (qual ginasta em treinos) e tive confirmação do diagnóstico (feito ao telefone pela médica). Saí de lá bem melhor e com receita de magnésio para ajudar a recuperar a parte muscular.
Nessa semana senti-me terrivelmente xôxa e ansiosa e mil e um pensamentos me povoavam a cabeça e atormentavam o coração.
Estava agitada, inconformada, com medo, angustiada.
A minha melhor amiga tinha sabido, às 9 semanas, que o seu bebé tinha deixado de crescer 3 semanas antes e teve de ser internada. Mexeu muito também comigo e, no dia em que a visitei, deparei-me com uma fulana que ía no 5º aborto provocado aos 5 meses. Haja sangue frio para não fugir dali a correr, pois os sentimentos ficaram em turbilhão dentro de mim e, ao ver o seu ar descontraído, são soube o que pensar ou sentir.
Durante mais de uma semana andei a digerir as duas situações, com revolta e pena dentro de mim, com muita tristeza e muita dor. Sou assim...
O marido separou completamente as águas e criticava o meu sofrimento, o que o aumentava.
Nesse sábado, dia 23, entro em parafuso (até porque tinha a cueca húmida e pensei logo no líquido amniótico) e regresso às urgências daqui: sou excessivamente mal atendida, um pouco magoada na observação e mal medicada. Confirmou-se não estar a perder líquido (alívio!!), mas vem a hipótese de uma infecção urinária e de uma infecção vaginal, mesmo não tendo sintomas de nada. "Como precaução, queridinha, cê vai tomá esse antibiótico e colocá esses óvulos." Pergunto mais do que uma vez porquê e só obtenho como resposta: "Cê tem di confiar, querida! Vamos lá sossegar essa mãe. Nada disso vai te fazer mau. Confia, querida." Informo que tive de tomar antibiótico há cerca de um mês e volto a insistir que não tenho sintomas de nada (conheço bem as infecções urinárias e não há cá comichões nem ardor na vagina). Insiste. Explica tudo o que fez à 1ª médica que me recebeu (não sabia ler a eco, não soube ouvir a bebé, fez perguntas e comentários do arco-da-velha. Uma vergonha!) e ao enfermeiro que sempre viram e acompanharam tudo. "As melhoras, queridinha!" e já estou cá fora para carimbar a receita. É a médica da minha amiga e confirmo uma negligência total!!
Só no domingo, é com telefonemas que consigo acalmar e sentir-me mais confiante: ao meu urologista (que confirma ter-me sido receitado antibiótico de uma forma gratuita por não ter sintomas e me elogia por evitar o antibiótico até fazer análise à urina, para lá de falar com esposa - ginecologista - que confere não ser indicado óvulos sem sintomas de infecção!), uma amiga que trabalha no laboratório de análises do hospital, uma amiga, a irmã, a Mãe.
É fim-de-semana e temos visitas. Apetece-me berrar, fugir, mas não convém e marido e visita insistem em passear, relaxar, visitar museus, almoçar fora.
Acredito que a intenção tenha sido boa, mas para quem tinha algumas dores a mexer-se e o coração amarfanhado, não era a solução. Precisava deitar cá para fora os meus medos, ser ouvida, chorar e confirmar se estava a fazer bem em não tocar na medicação que me tinha sido prescrita. Precisava do ombro do meu cara-metade, que insistia em não mo dar para eu "não alimentar as angústias".
A visita foi embora domingo, depois de uma conversa muito séria, em que "agradeci" a falta de apoio a quem veio para me visitar e à minha barriga. A quem expliquei que é mais fácil dizer que não se sabe o que fazer ou percebe do que fazer um esforço para. A quem não se atreveu (tal como o meu marido) a aproximar e enfrentar a fera magoada em que eu me tinha transformado e optou por dar alguns passeios comigo em casa.
Nessa 2ª feira o resultado da análise à urina confirmou não estar com nenhuma infecção e não precisar de antibiótico nem óvulos antifungicida. Senti-me aliviada e contente por ter sido cautelosa e muito orgulhosa (ao mesmo tempo que revoltada) por ter acabado por resolver tudo praticamente sozinha.
Com o marido a tentativa de conversa desaguou em desconversa e choro, muito choro da minha parte. Senti-me muito só! Senti-me incompreendida e críticas era o que menos necessitava, assim como a presão para "estar bem por causa da bebé". Não depende em exclusivo de mim, certo? No final, ouvir "Quem me dera ser eu a estar grávido!" Magoou fundo!
Mas a semana foi rolando, eu retomei o trabalho sem forçar e com muita necessidade de me distrair e assim aconteceu. Mais ocupada, menos espaço para angústias e frustrações!
Planeamos agora 3 dias fora, tendo em conta que o assoberbar de trabalho o impede de se ausentar mais tempo e para mais longe.
A vontade de distrair, passear e namorar não tem sido quase ouvida. O tempo livre tem sido ocupado a caminhar com colegas ou frente ao computador. Eu sinto que tenho ficado com "os restos", quando as companhias para as caminhadas não saiem ou a net funciona mal.
A preocupação em manter "a chama acesa" da amizade e o investimento têm sido grandes, mas uma vez mais (também na minha maior sensibilidade de grávida) o investimento no "a dois" tem sido esquecido ou não valorizado, se é que lembrado e canso-me de lembrar, de sugerir, de planear!
Como dizia uma amiga há pouco: "Podemos não ser o centro do mundo deles, mas faz-nos bem sentir que sim, principalmente quando se está grávida.". E é bem verdade!
Nunca me senti muito "a prioridade", mas agora sinto mais essa falta, tenho mais essa necessidade que é satisfeita muito menos vezes que o por mim desejado.
Ser prático e racional sempre foi a sua postura, mas eu sonhei e sonho (estúpida?!) com um pouco de romantismo, de "regar da plantinha", de... mimo, pois então!
Talvez esteja mesmo egocêntrica, talvez esteja centrada demais em mim. Será?!
Porque há, tantas vezes, uma maior verbalizar de emoções da parte de outros do que da dele? Porque só há dois dias (porque eu sugeri) sentiu a nossa filhota mexericar? Porquê a palavra "responsabilidade" é por ele tantas e tantas vezes proferida, mas sempre em relação ao trabalho? E ao lar? À família que construímos? Ao amor que eu sei existe em nós?
Porque investe tanto no que vê menos vezes, no que está mais longe e parece esquecer-se do que tem ao lado? Só dará valor à poça quando ela secar? Não quero esse dia!
Não escrevo em busca de palavras de consolo. Escrevo num acto de pura catárese, necessária à minha sanidade mental.
Escrevo com a consciência de poder exagerar e só estar a ver o lado que me magoa e me faz sofrer. Mas hoje não é do outro (que é grande!) que preciso falar.
Frágil! Por vezes, sinto-me frágil como uma papoila ao vento, mas em alguns desses dias faço-me de forte.