24.9.08

Mãe e Fibromialgia


" Grandmother"

Segunda-feira acordei meia cansada, como já é hábito, mas a catraia mexia-se e remexia-se na cama, ali mesmo ao lado, e já começava a palrar, por isso… alvorada!

Fomos até à sala, brincámos, fizemos a nossa “saudação ao dia”, inventada num belo dia de sol e que se tem mantido, vai um biberon, arroto, bolsar um pouquinho e vem o sono. Aproveito o embalo que lhe dou e embalo-me também a mim, acabando por me deixar “escorregar” pelo sofá com ela a dormir em cima de mim. Que bom!!!
Depois da soneca das duas (eu tipo cão de guarda, com um olho aberto e outro fechado), umas voltas pela casa, um telefonema à minha Mãe, pôr a mesa para o almoço, mais um biberoni e chega-se à hora de almoço.

Algo me estava a incomodar, mas não estava com clareza de pensamento suficiente para discernir o que era, até que me volto a lembrar do telefonema à Mãe, da sua voz apagadita, do facto de já não ver a neta há uns dias e decido (verdadeiro impulso!) preparar-me e à E. para fazermos uma visita à Avó.

A surpresa funcionou, ainda que um pouco a saca-rolhas, que ela estava mesmo xoxita e ponderou não ir ter com as colegas/amigas onde tinham combinado. Mas nada como um telefonema e dizer “Anda lá, que nós já cá estamos!”. Em poucos minutos encontrámo-nos e surge a pergunta: “O que te deu?”.
- Apeteceu-me e olha que com muita força! E acho que à E. também, digo a sorrir.
Acabo por acrescentar: “Viemos fazer uma surpresa à Avó que ela anda meia em baixo e nós demos conta, certo, filhota?
As “Avós emprestadas” também surgem e foi lindo de ver a baba interior que para ali ía, as três debruçadas no carrinho. Teve direito a foto e tudo!
Vamos lanchar todas, temos direito a duas prendas giraças e cheias de carinho, damos mais uma voltinha e levamos a Avó a casa.

No carro, do banco da frente para o de trás, torço-me toda e pergunto, finalmente:
- Como estás, Mãe? Que se passa? Que me escondes?
- Ando cansada, filha…
- Sim... Mas não é só, pois não? Sabes que eu já te conheço um bocadinho… e pisco-lhe o olho.
A E. dormia ao seu lado, calmita.
- Eu tenho fibromialgia, filha!
Não reagi acho que com nenhum músculo da cara e permaneci o ouvido que senti esta minha Mãe que eu tanto amo estava a precisar.
- Já se andava a desconfiar de há um tempo para cá, mas confirmou-se umas semanas antes da E. nascer…
- Sei pouco sobre a doença, Mãe. Explica-me um pouco melhor.
- Está tudo ligado: ossos, dores de cabeça fortes, falta de qualidade do sono, dores em todo o corpo, querer fazer e não conseguir, rigidez muscular e pode afectar a memória.
O seu tom de voz era tão triste como o seu olhar, que ía resvalando para o ovinho da E.
- Mãe, não estás a pensar que vais ser menos Avó por isso, pois não? Ou tenho que te bater? e pisco olho de novo.
- Não, mas… Queria ajudar a tomar conta dela e não consigo como queria, não posso… E custa-me ver-te nessa angústia de Ama vs Berçário, porque vejo que o que desejavas era que ela ficasse comigo.
- Era o ideal, claro, mas Mãe, tu és uma Avozona e vais ficando com ela sempre que podes, o que é o principal. Nunca imaginei que tomasses conta dela a tempo inteiro e muito, mas mesmo muito, Mãe, me ajudaste no início e continuas a ajudar!
Falámos um pouco mais sobre a doença, o livro que a Maria Elisa escreveu com um médico e… o facto de a minha Mãe ainda não ter contado ao meu Pai (a mana vive longe, até compreendo).
- Mas eu ainda estou bem, isto vai sendo avaliado, tem altos e baixos… diz em tom de me despreocupar e denoto algum arrependimento em ter-me contado.
- Mãe, vai tudo correr pelo melhor e nós estamos aqui! Fizeste bem em contar. Amo-te muito e tu sabes!
Lá foi para casa e eu segui com o carro, rua abaixo, a caminho da minha casa, com um nó na garganta.
A E. continuava a dormir, mas no caminho acordou. Em casa tinha o maridão constipado, mas quando chego só as luzes acesas. Ligo-lhe.
- Onde estás?
- Com os fulanos do condomínio, à procura da fuga de água. Porquê?
- Precisava de ti!
- Mas é agora que está toda a gente em casa, para se poderem fazer os testes necessários.
- Ok, tudo bem. Mas quando puderes vem, sim?
Dou um beijo enorme à E., acaricio-lhe o cabelo e tiro-a do ovo. Dou-lhe um abraço imenso e sai-me da boca frase de tantas vezes “Amo-te muito, Filha!
Faz um cocó, limpo-a já com água corrente, dou-lhe banho, a seguir o biberon e tento adormecê-la.
Quando o maridão chega ainda ela lutava contra o sono e peço-lhe para ficar ele um pouco com ela. Começa o berreiro e lá vou eu. Em poucos minutos cala-se e adormece.
Nesse dia a net tinha avariado, cá em casa. Queria muito fazer uma valente pesquisa sobre a fibromialgia, para lá de tratar de coisas de trabalho.
Acabo por ir a casa de um vizinho, pedincho uns minutos frente ao écrã e dou por mim muito séria, muito sem reacção.
Ainda há muito pouca informação sobre a doença. Ainda se estudou pouco. Ainda é também tabu. Enquanto leio algumas (poucas) coisas, penso na minha Mãe e nos problemas de saúde que já teve até hoje. Apetece-me chorar, mas não consigo! Mil e uma coisas me passam pela cabeça, referentes ao presente, ao passado e ao futuro.
Volto para casa e finalmente conto ao maridão, que me aguardava.
Falamos um pouco, explico e, de repente, lembramo-nos os dois do mesmo: a minha Mãe começou a escrever “as suas memórias” (chamemos-lhe assim) para a E.. Agora, entendo-o de outra forma, que não dói menos!

Nessa noite praticamente não dormi, não liguei para casa dos meua Pais pela noite, nem dei sinal no dia seguinte pela hora de almoço, como às vezes acontece. Fugiam-me as palavras e era dia de levar a E. pela segunda dolorosa vez a casa da Ama.

À hora de almoço, choro um pouco, sem me dar conta que o estava a fazer.
Na hora que a filhota lá ficou sozinha (deixei-a a dormir, daí ter custado menos), fui à florista onde costumo ir e peço-lhe para me fazer um ramo simples, um “miminho bem especial”, com 5 rosas brancas.
Passei em casa dos meus Pais e ofereci-o à minha Mãe, com um abraço bem apertado!

5 comentários:

Inca disse...

um beijinho grande para ti e muita força para a tua mãe e para toda a família.. Essas notícias nunca são nada fáceis de digerir. Continua a mimar a tua mãe o mais que puderes, os mimos ajudam sempre.

Maggie disse...

Hello linda!
Posso imaginar o que te vai na alma mas não há necessidade de ficarem assim. Acima de tudo o objectivo é animar a tua mãe e fazê-la ver que há muita gente com a doença e que consegue fazer a sua vida «normal», há algumas normas a seguir, e obviamente limitações mas se ela conseguir manter a alegria e boa disposição, vais ver que se aguenta muito melhor ;O) Digo isto porque a minha mãe também sofre da doença e tem associada uma depressão profunda (resultado de uma vida dificil...) e, quando se sente mais animada sente menos dores e mais energia e quando se sente mais deprimida sente mais dores (tem alturas em que nem tem posição =S) e sente-se afundar no pessimismo... Não é fácil, mas lendo o livro da Maria Elisa és capaz de ficar com uma melhor noção =S Eu também gostava de poder deixar o meu pimpolho com a minha mãe, mas vamos esperar para ver, pode ser que depois dele nascer ela se sinta mais animada =)

Jokas doces e ânimo! Não te deixes ir a baixo, a tua E. precisa de ti e a tua mãe também, não deixes que ela faça deste assunto um assunto tabú e acima de tudo, não deixes que ela se sinta menos mulher ;O)

Cláudia, Pimpo e Pimpa disse...

Infelizmente não conheço essa doença, apesar de ter lido uma entrevista da jornalista Maria Elisa, que também padece dessa doença.
Muita força e pensamento positivo.

Bjs Grds para ti e para a E..
Cláudia

Mary disse...

Uma mãe de uma amiga minha tem essa doença, não é nada fácil, também depende do estado de evolução da doença.
Lê bastante, é sempre importante estarmos informados.
Um beijo grande para vocês
Isa

zeliaevora disse...

I am here, ok?